terça-feira, 12 de abril de 2011

Piolhos sugam juízo...

Lêu era minha melhor amiga da infância e ela tinha tanto, mas tanto piolho que o apelido dela era Lêu piôi. Ela na verdade era filha adotiva de uma família bem confusa (ela era sobrinha de Dona Rita que já tinha 6 filhos mais velhos e decidiu cuidar dela). Lêu era dessas crianças que ficavam na rua descalça, ninguém mandava ou desmandava nela, conhecia o bairro com toda a malícia de menina de 8 anos e nunca entendeu porque eu era feliz em ir pra escola. No fundo, a ignorância era transformada em ingenuidade e alguém sempre se aproveitava da boa vontade dela.

Perdi a conta de quantas vezes pedi pra minha mãe pra Lêu morar conosco...Ela almoçava, assistia TV, brincava lá em casa...mas era notório o desconforto dela em ficar presa numa casa...Lêu era do mundo, nunca gostou de estudar e consequentemente cresceu linda (muito linda) e ignorante...Quando criança eu até tentava brincar de escolinha com ela e repassar as coisas que eu aprendia...mas ela não tinha paciência pra ficar sentada e reclamava: "Brincar de escola???" (A única coisa que ela aprendeu foi que "o vento é o ar em movimento", na verdade ela achava a frase sonora e ficava repetindo, mas duvido que ela soubesse o significado...). Ela achava engraçado ser chamada de piolhenta, ser caçoada quando falava "percoço" ou "crínica" e duvido que tenha ficado qualquer tipo de trauma psicológico...talvez ela não tenha noção disso também!!!

Minha mãe tratava dos meus piolhos até perceber que se Lêu não se tratasse isso não teria fim. Então começamos um tratamento...Todos os dias Lêu ía lá pra casa colocar remédio e a bicha tinha piolhos tão geneticamente modificados que precisou tratar com ajuda de antibióticos...Foram quase 3 meses de pente fino, lençol branco, deltacid e antibiótico (quem já teve piolho sabe do que eu tou falando...). Era engraçado minha mãe procurar Lêu (o que não era nada fácil) pra dar o remédio na hora certa...

Certo dia estava brincando de hotel com ela, que tava adorando imaginar que estava se hospedando em um Hotel chique e soltou a imaginação com coisas que ela acreditava ter status...
Comecei a perguntar e preencher a ficha dela:

"- Nome?"
"- Maria Eduarda"
"- Profissão?"
"- Médica"
"- Endereço"
"- Avenida Boa Viagem"
"- Sexo?"

Nesse momento ela ficou vermelha, suou, deu uma gargalhada e respondeu:

"- Não!!!"

Tentei explicar o que era "gênero" pra ela, mas ela como sempre não estava interessada em aprender...
Acho que os piolhos de Lêu sugavam fundo e consumiam parte da massa cefálica da bichinha...
De qualquer forma, ela mudou de idéia rápido pois foi a primeira menina da rua a ficar grávida e hoje tem 3 filhos (de pais diferentes)...

Nenhum comentário:

Postar um comentário